quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Por um Paulo Freire nas novelas

A novela globoliana tornou-se produto de exportação e é vista em vários países da Europa com audiência igual ou superior a que se tem no Brasil.

Esta novela das oito, Passione, tradicionalmente a mais nobre de todas, nos dá uma idéia de como anda a educação do povo brasileiro e mundial, a acreditar na excelente recepção que têm as produções Globais.

Na sinopse, uma clara preocupação social, um engajamento nas questões que mais atentam a civilidade: passeia entre a droga e os drogados, indo da pedofilia até os anabolizantes para esportes de competição, penetrando no tecido da sociedade onde na miséria mocinhas são vítimas do tráfego do sexo, vítimas acionadas por parentes próximos.

Na sinopse, a complexidade dos sentimentos trata das tantas paixões que podem nos surpreender vida afora. Ainda no papel, um divertido jogo de contrastes invertidos, faz de cantões agrícolas do primeiro mundo, como a moderníssima toscana agroindustrial parecer medieval diante da emergente megalópolis São Paulo, cheia de luzes e complexidades.

Na prática, um exercício tolo de B+A= BA onde ficamos sabendo das mesmas coisas por repetição ad nauseum  das coisas já sabidas, minutos antes. Repete-se, repete-se, repete-se. Seja porque algum termo italiano vem a baila nas falas quase sempre infantis, ou porque a repetição da última palavra da frase enfatiza o sentido que se quer dar, seja porque o conhecido torna-se repetido só para ganhar tempo e esticar a novela.

Desconsidere-se a chatice da propaganda que concorre meio-a-meio em tempo com a novela. Sabemos que a 'perigosíssima' vilã desarmada está acuada por um aparato policial atento, formado por aproximadamente uma dúzia de agentes da lei fortemente armados, que invadem com todas as suas sirenes a casa da avó exploradora de menores. Revemos de novo os fatos nos comentários das vizinhas, que se assustam com tal ação. Ficamos sabemos mais uma vez em todas as locações brasileiras, seja na casa dos Gouveia, seja na metalúrgica ou na casa do italiano Totó. Em ritmo de novela, o caso vai sendo comentado e somos obrigados a ouvir - didaticamente - o que todos falam.

Se fosse um bom cinema, a novela duraria seus 90 minutos com dignidade. Com meses de ar, vai esticando a paciência do espectador que se vê infantilizado, emburrecido, martirizado... Com artistas de qualidade como uma Aracy Balabanian e uma Fernanda Montenegro cabendo mal em suas falas, vestindo personagens cujo ridículo é quase insuportável para elas mesmas.

Gente chata, repetindo coisas e cenas chatas, insustentáveis na forma, banalizando conteúdos que eventualmente poderiam ter força transformadora. Já sabemos que aquela ninfomaníaca que faz o papel de filha do Francisco Cuoco desconfia de seu bígamo marido.

Aceitamos até as palhaçadas incríveis da moça que se inspira na Caixa de Pandora, que bufa uma vingança ridiculamente retardada no tempo e no espaço.
Aceitamos até o outro centro de ridículo que é o postman italiano enganando o avô numa seqüência de patacadas que parece não ter fim. É possível até suportar os momentos de traição e amor entre os bons mocinhos filho-do-motorista e sua namorada jornalista. É possível até considerar pertinente que a novela - para adquirir novos fôlegos - requente novos focos de tensão como a do rapaz que se extasia diante do monitor de seu computador, ou que o filho ruivo do italianinho bobo se espante com novas revelações de sua namorada.

O que não dá mesmo é ouvir pela enésima vez que a Gema é contra a Clara (como se houve uma repulsa física, química e biológica entre as duas partes componentes do ovo - a gema e a clara).

De positivo, além da trama? Alguns ótimos momentos vividos pelo Lado do Mal da novela, formado pela Clara, pelo Fred e Saulo. Uma nova didática nas novelas se faz urgente.